P A G E S

8.10.18

Voltar a Amar...

Depois da alguém morrer fica, muitas vezes, a morte de quem fica.

No meu caso, tendo um filho muito pequeno na altura, houve ali uma tentativa de não quebrar a rotina do Manel, de segurar as pontas do meu lado, de chorar a morte do pai em silêncio, de trabalhar, de ir ao médico, do Manel ir ao colégio, de não o envolver na dor e na perda mas ajudá-lo a criar memórias.

Enfim...muita tarefa para uma apenas miúda de 29 anos que só queria que desse tudo certo.

Na realidade quis, desde sempre, fugir ao estigma da morte. Nunca "a" escondi do Manel e ele, à sua maneira, tem crescido com esse entendimento.

Parece contranatura, mas existe um anticorpo natural acerca do destino mais do que certo de todos nós. Normalmente não falamos sobre ela, escondemos dos miúdos até acontecer uma fatalidade, substituímos todos os peixinhos e tartarugas para que não se dê conta, batemos na madeira e fechamos os ouvidos.

É verdade: Ninguém, na plena capacidade do seu ser, quer morrer ou perder alguém querido.

Depois de passar por este trauma, famílias e amigos próximos confortam-se mutuamente, tentam que a dor seja esquecida. Mas a realidade é que cada um de nós tem o seu tempo, o seu espaço para o luto. Durante este tempo, se acharmos necessário, devemos consultar um profissional de psicologia que nos ajude a perceber melhor todo o tema e que, por fim, nos dê "uma mãozinha" a ultrapassar a dor e voltar a sorrir.

Sorrir não significa que nos esquecemos das pessoas ou que a dor diminuiu. Significa "voltar" a viver.

E, no final de contas, o mais importante é encontrar, por fim, o equilíbrio entre a saudade e a retomada de vida.

Apesar de ter aprendido a viver, dar ao Manel todas as formas naturais de atuar e saber que, apesar da morte, podemos viver felizes, sei que durante todos estes anos, reneguei toda e mais alguma retomada de vida amorosa. Por todos os motivos e mais alguns.

Lá dentro, bem lá ao fundo, sabia que um dia iria alterar esse filtro e o amor iria voltar.
Voltou!
Cheio de medos!
Cheio de contratempos!
Cheio de Amor!


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